O desejo impreciso e a ânsia do inalcançável

Na mitologia grega, Póthos é o deus do desejo — especificamente por um bem ausente (em oposição a Hímeros, dirigido a algo presente) — , desejo a que entregar-se é irracional, capaz de levar à morte. Consequentemente, um desejo doloroso: contém ao mesmo tempo as ideias da plenitude (como uma promessa conservada na imaginação) e do sofrimento por uma ausência irremediável (uma plenitude que não pode ser alcançada). É a deidade associada aos sentimentos difusos de nostalgia e anseio angustioso.
Seu nome é usado não só no vocabulário amoroso mas também no do luto (na tragédia Os Persas, de Ésquilo, as mulheres sentem póthos pelos maridos mortos que não regressarão da guerra). Ser dominado pelo “Pothos” em relação aos mortos seria recordá-los continuamente, ficar preso a eles (como Aquiles à Pátroclo).
Sua relação com o irracional e a desmedida é figurada pelas ramas de videira com que era representado, associando-o à embriaguez.
Vocábulos modernos celebrados por existirem unicamente em uma língua apontam algo semelhante à ideia: sensucht, añoranza, yearning, e até mesmo a nossa saudade e a palavra romena dor.
O historiador romano Arriano (ca. 92–175 d.c.), que escreveu em grego, atribui o sentimento de póthos como característico e altamente pessoal de Alexandre o Grande (Anábase de Alexandre): Alexandre constantemente tem o desejo de realizar alguma proeza ou emular um grande personagem, como Aquiles ou Dioniso, a quem um culto praticado inclusive pela mãe de Alexandre atribuía a conquista da Ásia e da Índia com um exército de mênades e sátiros (projeto que Alexandre só deixa inconcluso quando está a ponto de entrar nas terras desconhecidas e seus soldados amotinados o obrigam a retornar).